"You only hate the road when you are missing home"
Há exatamente 15 dias comecei a
minha jornada pela Europa. Eu estava, como boa medrosa que sou, muito assustada
com a ideia de passar 9 horas dentro de um avião que cruzaria o Oceano
Atlântico. Entrei na aeronave, prestei bastante atenção nas aeromoças fazendo a
demonstração de segurança (sério, aquilo me dá um conforto enorme), apertei o
cinto e preparei minha mente pras próximas horas que viriam. Meu travesseiro,
meus companheiros de viagem e meu livro foram meus maiores salvadores naquele
tempo interminável que passei dentro do avião.
Os voos foram muito bem,
obrigada, considerando que o meu maior desconforto foi ter esquecido de colocar
lanchinhos pra comer na mala de mão e
ter ficado com fome quando não estavam distribuindo comida no avião (nunca vou
me esquecer da fome absurda que eu senti as três da manhã). Fora isso, tudo
ótimo.
O que pareceu uma eternidade de
tempo e aeroportos depois, voilá. Espanha. Carimbei meu passaporte, peguei as
malas, minha tia e meu tio me pegaram no aeroporto e entramos no carro pra vir
pra casa. Vi meus primos, comi, andei pelas ruas da cidade e dormi muito. Os
primeiros dias foram, sem dúvidas, os mais agitados (íamos pra Paris dois dias
depois de chegar na Europa). Muita coisa se passou nesse tempo. Muitos lugares
diferentes. Muitas horas dentro de casa também. E 15 dias depois criei coragem
pra escrever tudo.
É bem estranho pensar nisso, porque eu já
tinha planos de escrever à muito tempo. Porque eu já tinha me planejado pra
isso. Porque essa viagem foi muito esperada e eu não via a hora de colocar no
papel (pelo menos na minha cabeça). Mas quando de fato cheguei aqui
desacelerei. Dormi mais, li mais, fiquei mais tempo com a minha família. Fugi
do que eu tinha planejado, parei de correr e controlar cada segundo que tinha
pra “conhecer tudo e ver tudo e tirar milhões de fotos” pra simplesmente ficar
quietinha em casa (coisa que gosto muito). E honestamente não sei se foi a
melhor coisa a se fazer, mas sei que precisava disso.
Passei um ano correndo, vivendo
tudo intensamente, aproveitando milhões de coisas, mas me desgastando muito pra
isso também. Talvez (muito provavelmente) eu só precisasse de paz e calmaria.
Mesmo que meu corpo não esteja acostumado com esse ritmo calmo por mais que um
fim de semana, em que eu me permito ficar jogada na cama fazendo coisas que me
relaxam como ler ou escrever, antes de voltar pra uma semana que exige o máximo
de mim. Bem, seja como for, os últimos
dias tem sido complexos.
A Europa é incrível. Tive
oportunidade de conhecer a Região da Cataluña, na Espanha, e Paris, na França. As
pessoas são educadas, mas não são muito calorosas. As ruas são bonitas no
inverno. O vento gelado me deixa feliz, trazendo oportunidades de usar minhas
roupas favoritas (casacos, meia-calça, luvas, gorro) e até o momento não me
deixou gripada. Tem praia, monumentos e história por todo lado.
Mas eu sinto uma saudade imensa
de casa. Da água sem tanto cloro, do solzinho que faz no fim de tarde, dos meus
cachorros que deitam aos meus pés ou me mordem pra brincar, do meu quarto no
qual eu tenho privacidade o tempo todo e é, definitivamente, o lugar em que eu
mais me sinto eu. Das pessoas.
Principalmente das pessoas.
Das minhas irmãs que sempre me
perturbam quando vão dormir no meu quarto e ficam rindo da minha irritação cem
por cento verdadeira (eu jamais manteria uma cara feia mesmo que não estivesse
brava, nunquinha). Da minha avó reclamando que eu a abraço demais e depois
perguntando como está a minha vida em Uberlândia. Da minha prima me convidando
pra sair com ela pra casamentos ou eventos de penetra. Dos meus primos jogando
no computador da minha casa, ou vendo filme na TV. De sair com todas as minhas
tias pra andar no centro da cidade e ouvi-las conversar por horas. De estar em
Araguari e ficar imensamente feliz ao receber uma mensagem das minhas melhores
amigas, me chamando pra ir pra casa delas ou indo até a minha, dos raros
momentos em que estamos todas juntas. De brigar seriamente e no segundo
seguinte sentar a mesa pra comer pizza como se nada tivesse acontecido, de sair
sempre pro Salinas, de lembrar dos anos passados.
De ir pra Universidade, mesmo que
eu odeie o meu curso e acordar cedo, pra encontrar meus amigos que são incríveis.
Que dançam e cantam pelos corredores comigo e ouvem quando eu tenho qualquer
tipo de crise, que reclamam de comprar comida que vai engordar, que me
emprestam blusas de frio mesmo quando elas são de marca e eu posso estragar ou
roubar. Saudades de ir dormir na casa das amigas pra estudar e acabar vendo
séries, ou discutindo sobre McMelody com opiniões divergentes, mas no fim
acabar tudo bem. De ter horas de discussões sobre personagens de séries e
livros que são importantes, e de falar de paixões platônicas.
Sinto falta de ter reunião todas
as semanas no corredor do Bloco A. Sinto falta de me encontrar com outras seis
pessoas todas as terças na minha casa, e ficar gritando e incomodando os
vizinhos até às duas da manhã. E de passear na garupa de uma moto pelas ruas da
cidade e trocar confidências nas milhões de noites do pijama, de falar de
comida e ficar incomodada por coisas que depois vão me fazer rir, ou ficar
quase três horas trocando áudios num grupo só de meninas falando sobre garotos
ou boybands. De sair pro bar porque meu amigo me chamou contando com toda a
certeza do mundo que eu iria (e eu ir, de fato), de dividir cigarros, de tomar
sorvete e discutir tatuagens e intercâmbios na Romênia, de reclamar dos
problemas na varanda.
Eu realmente gosto daqui. Gosto
do novo. Gosto dos passeios. Gosto da minha família que está aqui comigo, gosto
do tempo livre que tenho de sobra.
But home
is wherever your heart is, and mine is in my country, with my people. And
I’m missing home so much that I cry and it makes me confuse. I want to be here
for more two months. But I want to have both worlds. Is it possible?
Não sei por que mudei para o inglês.
Acho que depois de um ano, acostumei a usar o inglês pra sussurros e
confissões. E acho que estou contando um segredo aqui. Não queria que meu
primeiro texto no blog tivesse esse tom triste e cheio de saudades. Mas é assim
que meu coração se sente, e nunca consigo escrever coisas que não estão
transbordando pelas minhas veias.
Eu realmente, realmente,
realmente sou grata pela oportunidade de viajar e de fazer um dos meus sonhos
realidade. Sou grata por conhecer outros países, e por encontrar gente que me
ama por todo canto. E sou feliz por estar aqui.
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